sábado, 14 de abril de 2012

A Estrada...

Iniciei lentamente o percurso da morte. De certo, alguns dos meus adoráveis imaginários leitores tenham suas experiências de quase-morte tão intensas quanto meu devaneio modorrento. Mas independente disso, transcreverei lentamente as sensações que se apoderaram de meu corpo a ponto de realmente pensar que era hora de avisar o amigo mais próximo que talvez não estaria mais entre os corpos, habitando por tanto o outro lado do tecido da realidade.


"As luzes da estrada sempre me agradaram... me parece que a noite, etérea, vai se dissolvendo lentamente nos faróis que cegam meus olhos cansados... feito dragões cuspidores de fogo, deixando as marcas no asfalto. Uma estranha sensação de formigamento transporta meus pensamentos a um evento trágico/mágico. E se o beijo da morte me encontrasse hoje? Ali, naquela estrada, naquele momento de êxtase noturno. Então adentro com estardalhaço no reino da modorra. O desespero que inicialmente me acometia se transformou nos ruídos  da estrada... meus ouvidos aguçados acompanhando cada mudança de marcha, da violência do vento entrando por assovios na fresta da janela. E não havia mais medo. Era apenas uma estrada me conduzindo. E já não havia mais carro algum... eram meus passos ecoando secos na terra úmida, das lágrimas nevoentas da madrugada. Apertei o passo, fechei os olhos, e não haviam dragões, nem luz, nem fogo. A escuridão acariciando minha face contraída num sorriso. Enquanto abraçava a noite, me lembrei de súbito, não havia me despedido de ninguém... imaginei o choro triste de meu cachorrinho aguardando ansioso  a chave chacoalhar na frente do portão. Imaginei meus deuses/diabos em jaulas expostos em minha estante... as roupas atiradas na cama, as canecas de café. Imaginei meus amigos... seus olhares vazios. Imaginei meus pais... e todas as brigas que ecoaram nossas diferenças etárias... meu caderninho de poesias, os lápis de cor... as fotografias... músicas. Meu corpo foi projetado para frente, em meu pescoço a marca do cinto. Um caminhão entrara em nossa frente, e eu estava sentada novamente, apertando meu celular no colo, pensando, quem eu aviso primeiro?"





Roubei a imagem de um blog que foi removido.

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