
Foi o tempo de abrir a porta da geladeira, apanhar uma cereja ao marrasquino comprada para a torta não feita de ano novo e olhar para a janela.
Aquela cor estranha invadia com uma sutil delicadeza, beijando a superfície branca do armário, envolvendo os pelos eriçados do pequeno cachorro na porta, latindo chacoalhando o rabo.
Olhei para o chão, alaranjado, a mesma cerâmica austera branca de toda a casa, tomada pela cor.
Por uns instantes pensei que se tratava de uma mágica alucinante, talvez, quem sabe a própria feiticeira de En-Dor estivesse projetando essa louca e psicodélica sensação de ser tragada para um universo laranja.
Os calcanhares giraram, com a cereja ainda nos dedos lambuzados e vermelhos, me entreguei a luz.
Ali sentada no topo da escada, sorvi a ultima gota de raio de sol, sentindo o frescor da noite que se anunciava.
A mente passeando, imaginando as estrelas que se espremiam no céu, esperando a brincadeira das cores findarem para finalmente brilharem na escuridão.
Dessa vez, ficou registrada em palavras, e na lente ruim do meu celular...
Nenhum comentário:
Postar um comentário