O raio de sol entrava pelas cortinas muito brancas, invadindo o quarto com a manhã fria. Solitária, entre os lençóis e edredons, os olhos piscando, tentando reconhecer o teto branco, o lustre de cores vibrantes em art nouveau. O cômodo era aconchegante. A cadeira Luis XV. Um aparador no mesmo estilo da cadeira, dois livros e um solitário com aquele botão de sangue em flor. Levantou-se, vestiu-se, enrolou em seu pescoço o lenço avermelhado, num contraste perfeito, pedacinhos de sua pele alva escapava aos grossos casacos, e o rosto, branco, como todo o quarto. Saiu, trancou a porta. Ela seguia em passos firmes até a porta do café.
Sua mesa estava ocupada. Mas isso nunca fora um problema. Adentrou o ambiente, os claques do salto nos tacos que revestiam o chão ecoavam. Pediu seu café. Voltou-se para rua, rumando a sua mesa. Sem pedir licença, sentou-se. A outra, ofereceu-lhe cigarro. Que foi prontamente aceito. Nenhuma palavra. O café chegara, e ali, fumaça de café e cigarros se confundiam. Numa voluptuosa dança. Sorveu até a ultima brasa de tabaco, tragou até a ultima gota amarronzada da xícara. Nunca mais cruzaram pelas ruas frias de Paris.
Pouco lhe interessava quem era a moça. Pouco lhe interessava qualquer coisa.
Uma semana depois, tomou seu voo a Budapeste.
Devia ser proibido!

Nenhum comentário:
Postar um comentário