domingo, 9 de setembro de 2012

Complexidade Poética Cotidiana

E quem ousar criticar a forma, que engula decassílabos sáficos!

O amanhecer nunca é tão belo quando não debruçamos em sorrisos ensolarados.
Apenas posso odiar todos aqueles que nunca viram o sol nas manhãs cálidas e frias. 
Ainda que não exista casamento algum, sol e lua são intimamente ligados pela apaixonada visão sobre a vida, o universo e tudo mais. 
Sim, adoro preencher meus escritos boçais com literaturas e músicas que apreendem minha mente. E não critiquem tal ação, pois ainda que o engenho ardente há muito tenha abandonado os dedos impacientes desta que lhe escreve, ainda posso ignorar toda a métrica que tanto amo, para jorrar tinta em papéis coloridos.
Mas falar de sol, não é minha grande área, sou aquela que ama a noite, aquela que escreve sob o luar. Aquela que encosta na janela, e penetra surdamente no reino da noite, esperando as estrelas em dicionário entregar Drummond.
Ouso tocar de leve a rugosidade lunar como se assim, em sua forma cratera, pudesse esconder minhas unhas, carnes e outras vidas que escorregam quando seguro canetas.
E não há nada de tão belo e tão singelo, que meu amor escorrendo pelas cores dos papéis que escrevo!

Domingo.


sábado, 14 de abril de 2012

A Estrada...

Iniciei lentamente o percurso da morte. De certo, alguns dos meus adoráveis imaginários leitores tenham suas experiências de quase-morte tão intensas quanto meu devaneio modorrento. Mas independente disso, transcreverei lentamente as sensações que se apoderaram de meu corpo a ponto de realmente pensar que era hora de avisar o amigo mais próximo que talvez não estaria mais entre os corpos, habitando por tanto o outro lado do tecido da realidade.


"As luzes da estrada sempre me agradaram... me parece que a noite, etérea, vai se dissolvendo lentamente nos faróis que cegam meus olhos cansados... feito dragões cuspidores de fogo, deixando as marcas no asfalto. Uma estranha sensação de formigamento transporta meus pensamentos a um evento trágico/mágico. E se o beijo da morte me encontrasse hoje? Ali, naquela estrada, naquele momento de êxtase noturno. Então adentro com estardalhaço no reino da modorra. O desespero que inicialmente me acometia se transformou nos ruídos  da estrada... meus ouvidos aguçados acompanhando cada mudança de marcha, da violência do vento entrando por assovios na fresta da janela. E não havia mais medo. Era apenas uma estrada me conduzindo. E já não havia mais carro algum... eram meus passos ecoando secos na terra úmida, das lágrimas nevoentas da madrugada. Apertei o passo, fechei os olhos, e não haviam dragões, nem luz, nem fogo. A escuridão acariciando minha face contraída num sorriso. Enquanto abraçava a noite, me lembrei de súbito, não havia me despedido de ninguém... imaginei o choro triste de meu cachorrinho aguardando ansioso  a chave chacoalhar na frente do portão. Imaginei meus deuses/diabos em jaulas expostos em minha estante... as roupas atiradas na cama, as canecas de café. Imaginei meus amigos... seus olhares vazios. Imaginei meus pais... e todas as brigas que ecoaram nossas diferenças etárias... meu caderninho de poesias, os lápis de cor... as fotografias... músicas. Meu corpo foi projetado para frente, em meu pescoço a marca do cinto. Um caminhão entrara em nossa frente, e eu estava sentada novamente, apertando meu celular no colo, pensando, quem eu aviso primeiro?"





Roubei a imagem de um blog que foi removido.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Cafe et Cigarette Paris


O raio de sol entrava pelas cortinas muito brancas, invadindo o quarto com a manhã fria. Solitária, entre os lençóis e edredons, os olhos piscando, tentando reconhecer o teto branco, o lustre de cores vibrantes em art nouveau.  O cômodo era aconchegante. A cadeira Luis XV. Um aparador no mesmo estilo da cadeira, dois livros e um solitário com aquele botão de sangue em flor. Levantou-se, vestiu-se, enrolou em seu pescoço o lenço avermelhado, num contraste perfeito, pedacinhos de sua pele alva escapava aos grossos casacos, e o rosto, branco, como todo o quarto. Saiu, trancou a porta. Ela seguia em passos firmes até a porta do café. 
Sua mesa estava ocupada. Mas isso nunca fora um problema. Adentrou o ambiente, os claques do salto nos tacos que revestiam o chão ecoavam. Pediu seu café. Voltou-se para rua, rumando a sua mesa. Sem pedir licença, sentou-se. A outra, ofereceu-lhe cigarro. Que foi prontamente aceito. Nenhuma palavra. O café chegara, e ali, fumaça de café e cigarros se confundiam. Numa voluptuosa dança. Sorveu até a ultima brasa de tabaco, tragou até a ultima gota amarronzada da xícara. Nunca mais cruzaram pelas ruas frias de Paris. 
Pouco lhe interessava quem era a moça. Pouco lhe interessava qualquer coisa. 
Uma semana depois, tomou seu voo a Budapeste.

Devia ser proibido!



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Reflexões de Cabo de Guarda Chuva



Três pingos ameaçaram a moça, ela me toma de assalto, me expõe a toda impureza forjada pelas suas próprias invenções.
Eu aquele pobre guarda chuva, exposto àquele liquido sujo, cingido de ódio de nações inteiras.
Eu que salvo sua cabeça da química de seus atos, que te protejo de tudo que fizestes.
Eu produto de tuas mãos ofertado a chuva como impecílio para tocar sua alma.



Queria descobrir de quem é essa pintura...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Laranja

Foi o tempo de abrir a porta da geladeira, apanhar uma cereja ao marrasquino comprada para a torta não feita de ano novo e olhar para a janela.

Aquela cor estranha invadia com uma sutil delicadeza, beijando a superfície branca do armário, envolvendo os pelos eriçados do pequeno cachorro na porta, latindo chacoalhando o rabo.
Olhei para o chão, alaranjado, a mesma cerâmica austera branca de toda a casa, tomada pela cor.
Por uns instantes pensei que se tratava de uma mágica alucinante, talvez, quem sabe a própria feiticeira de En-Dor estivesse projetando essa louca e psicodélica sensação de ser tragada para um universo laranja.
Os calcanhares giraram, com a cereja ainda nos dedos lambuzados e vermelhos, me entreguei a luz.
Ali sentada no topo da escada, sorvi a ultima gota de raio de sol, sentindo o frescor da noite que se anunciava. 
A mente passeando, imaginando as estrelas que se espremiam no céu, esperando a brincadeira das cores findarem para finalmente brilharem na escuridão.



Dessa vez, ficou registrada em palavras, e na lente ruim do meu celular...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Alice

"Tudo tem uma moral: é só encontrá-la."
Lewis Carroll



Certo dia, percorrendo o jardim daquele palácio entre uma carta de baralho e outra, encontrei com ele, o gato, ele com suas meias de listras.
Então eu jáo sabia onde estava, será que era imaginação a minha ver ele ali?
Talvez eu devesse maneirar na quantidade absurda de vodca que circulava em minhas veias no lugar no sangue.
Forcei a vista para ver seus detalhes em cores alternadas, ele não tinha rabo... Muito estranho... Um gato sempre tem rabo. Pra onde foi esse rabo?
Tentei me aproximar bem devagar, meus sapatinhos de Dorothy puta como diria meu velho amigo encharcava na grama úmida.
Fui me achegando, esticando um pouco a mão, toquei de leve seu rosto. Não era um gato.
Nunca tinha visto nada parecido... tentei me lembrar das outras tantas historias que povoam minha mente infantil... nada... o ser a minha frente era algo que eu nunca sequer sonhei compreender..
Os grandes olhos me encaravam desconfiado, como se também estivesse me investigando... Ficamos ali, parados feito estatuas... Ate o momento que decidi arrumar os laços do meu sapato... Olhei para os meus pés cobertos por aquela meia, listrada... 
Naquela noite acordei atordoada, fumei um maço de cigarros amassados entornei a velha garrafa de vodca... me deitei nos braços de Morpheu, e fantasiei um novo sonho virulento.




Essa foto roubei de uma moça chamada Clara Silva.