terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sofá Velho


In memoriam


Onde pode me levar um sofá?
Num sofá Chesterfield, galáxias... 

Mas quero me lembrar nestas linhas mal escritas de tardes deitada no sofá velho de minha batchan.
Tardes quentes.
Ás vezes, a velha ranzinza se sentava ao meu lado, me puxava, e afagava meus cabelos de caracóis. 
E nestes momentos, me apresentava um mundo de haikai e histórias. Era uma cumplicidade mimética. Lá estava eu novamente, conduzida pelas suas palavras truncadas.
"As cerejeiras eram lindas, seu perfume entrava pelas janelas, pelas frestas das madeiras de nossas casas. Ah minha querida, gostaria de sentir novamente aquele perfume..."
E era com essa voz calma e serena que minha mente transformava a infância em Sagami-wan num pequeno filme.
Passavam os dias numa folha em branco, e essas memórias insistiam em povoar minha mente com névoas de flores de cerejeira. Deitada naquele mesmo sofá, tantos anos depois. Numa tarde quente, como eram aquelas, suas mãos mais velhas afagavam meus cabelos mais curtos, revoltados feito ondas de Kanagawa, ouvi sua voz, rouca, defendendo, feito Susanoo no Mikoto, as oito virgens... descrevendo o terrível Yamata no Orochi, mergulhando suas cabeças nas jarras de saquê...
Uma espada, um golpe e a liberdade de Izumo e seu povo...





Ao som de Back in Black - AC/DC

Explicando termos:


haikai - poesia japonesa
Sagami-wan - onde minha avó morava, golfo sagami, região central do japão
Onda de Kanagawa - referencia a uma xilogravura: A grande onda de Kanagawa de Hokusai
Susanoo no Mikoto - quem matou o dragão Yamata no Orochi
batchan - é uma forma carinhosa de falar vovó!



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O que é a ideia de Nada?

Então, mais um ano filho da puta termina.
2011 foi o fim da minha vida de universitária.

Escrevi pra caralho, briguei com muita gente.
Saí da educação não formal para enfrentar a formal.
Dei aula.
Me diverti com os alunos, na loucura de dinamizar o processo de aprendizagem em História.
Conheci pessoas incríveis.
Mandei pra puta que pariu algumas delas.
Voltei para a educação não formal.
Pesquisei poesia lusitana do século XVI.
Descaralhei  sobre recepção, circulação e critica.
Mas acabou esse ano.
Então, chega de falar de História, de Educação, de qualquer coisa que remeta ao sistema.

Decidi escrever sobre o NADA.

É um puro senso de negação do ser que pretendo empreender.
Pretendo apenas falar sobre qualquer coisa e NADA!
Afinal, nossas vidas são feitas de NADAS COMPLETOS!
Passamos negando o que somos, afirmando o que nunca seremos.
Nunca conhecemos ninguém de verdade.
Somos uma raça mesquinha que nem ao menos sabe sua função clara neste mundo.
E pobre deste mundo, que suporta pacientemente, a "odiosa natureza humana".

Pelas minhas andanças, me encanto observando as pessoas.
E transfiro para meus cadernos coloridos esses arroubos de vida.

Agora adentro janelas, e me entrego a uma narrativa poética do cotidiano urbano.



PS: A fotografia de fundo deste blog é de Julio Bittencourt fodalhão ele não?